“Não sei não, acho que é uma matéria que só é dada em escola particular…(Cambito)”
A procura de algumas informações referentes a design e criação, acabei caindo em um site que possui diversas animações gráficas. Uma delas é de Cambito, personagem fictício mas que ao mesmo tempo existe realmente em todas as grandes cidades de nosso país e que passa pelos mesmos problemas que milhares de pessoas em todo o mundo.
E hoje, por mera coincidência (ou pelo coração que sempre me leva para este lado) estive numa comunidade rural de João Pessoa para conhecer uma estação digital: programa do governo federal que leva à milhares de brasileiros o início de uma etapa; a mudança da condição de não ser ninguém para começar a se tornar cidadão novamente (ou pela primeira vez, não sei bem). E lá, duas senhoras aposentadas e ex-assistentes sociais levantaram com seus próprios braços espaço para sala de aula, oficinas de bordado, salas de música, capoeira e dança. Correndo atrás de ajuda de quem quer que fosse, conseguiram revitalizar o entorno daquela comunidade e trazê-la para dentro do projeto, dando à eles não somente um espaço de cultura e lazer, mas principalmente a base para que possam retomar a vida muitas vezes perdidas como “cambitos”.
Quando conto passagens assim, alguns pensam que foi por “obra de caridade” ou coisa semelheante que aquilo que lá está aconteceu. Não, não foi. Em uma frase muito interessante, uma das senhoras resume bem a história: “ao invés de nos tornamos parceiras da farmácia devido a aposentadoria, nos tornamos parceiros da comunidade e dos sonhos dela”. Ou seja, deixaram o sonho de ficarem banguelas sentadas diante de uma TV e de sua programação próxima a nada para colocar a mão na massa (literalmente) e devolver a sociedade um pouco daquilo que obtiveram dela: conhecimento.
Coisas como estas mostram o verdadeiro espírito empreendedor, não só destas duas pessoas mas de alguns poucos milhares de brasileiros idênticos. Saem de seus lares para se dedicar ao coletivo. Saem de sua condição “malomeno” para estender a mão à quem realmente precisa.
Fazer empreendedorismo com dinheiro é muito fácil. Fazer empreendedorismo com MBA de Havard e juros de bancos a fundo perdido até um imbecil faz (que a maioria o é mesmo). Agora fazer empreendedorismo no meio do nada, onde telefone chegou há uma semana (e isso porque estamos no século 21) e o asfalto mais próximo fica há 10 Km de distância, isso eu quero ver. Andar na Av. Paulista de pastinha debaixo do braço, vestidinho e salto alto ou terninho e gravata é mamata. Quero ver pegar no pesado no meio do nada.
Mas não adianta ficar aqui descendo o sarrafo nos yuppies. Cansei disso. Digo à todos que não tenho medo de nada, somente da burrice que se instala na cabeça de alguns e faz com que estes tenham a visão tão ampla quanto um asno com seus arreios.
O vídeo do Cambito pode ser baixado aqui. Por favor, assista até o fim e tente pensar no mesmo e também no comentário final. Quem sabe você, no conforto de seu lar com este seu notebook de última geração e acesso rápido à Internet, pára um pouco e pensa sobre o que queremos para nós mesmos. Seria isso?
Obs: fiz a asneira de não levar a máquina fotográfica. Mas como vou voltar lá para colocar a rede de computadores deles em pleno funcionamento e ministrar algumas aulas, tirarei as fotos para que compreenda o que é “empreendedorismo”.