Depois da palestra que ministrei em Boa Vista semana passada, sentado tomando cerrveja com alguns amigos (antigos e novos), me perguntaram como eu fazia para estar sempre de bom humor e rir até de desgraça (o que é desgraça???). A resposta foi: não tenho medo.
Mas o que o medo tem a ver com isso, questionaram-me. Simples, digo eu. O medo é aquilo que barra todas as vontades, todos os desejos, todos os prazeres que podemos vivenciar a cada segundo de nossas vidas. Quem já não teve vontade de “chutar o emprego” e ficou com medo de não arrumar outro? Quem já não teve o desejo de ir conhecer um outro país e ficou com medo de não entender nada do que falam ou morrer de fome por não saber ler um cardápio? Quem deixou de saltar de pára-quedas por medo que o dito cujo não abra na “hora H” (mesmo sendo um dos esportes mais seguros do mundo)?
Pois é, o medo quando não controlado pode trazer todo o tipo de tristeza e frustração. Não falo do medo nato de uma cobra que, estando próxima e picando-o, poderá matá-lo em horas se o antídoto não for aplicado em tempo. Também não falo de fobias que as pessoas tem naturalmente de lugares fechados, insetos ou outras coisas. Falo daquele medo “típico bundão” que as pessoas tem de coisas simples mas que ampliadas pelo descrédito de outros, “carestia”, situação social ou governamental e outros tantos poréns, deixam-nos inertes e simplesmente passando pela terra, não vivendo realmente.
Em 2004 resolvi que ia à um evento na Noruega. Não me pergunte de onde tirei a idéia mas queria ir. Obviamente que “n” pessoas disseram: “você é louco! Não sabe falar norueguês, não conhece nada, como vai fazer lá sozinho? E se você se machuca? E se tem uma dor de barriga? E se quebra um braço? Como vai fazer???” Bem, o resultado foi que estive na Europa por 15 dias com 400 euros (menos de 40 por dia), fui à Noruega, participei do evento e de lambuja ainda conheci a Alemanha. Não tive uma única dor de dente ou unha encravada, não morri de fome e consegui mesmo com meu inglês aprendido nos livros e nos e-mails diários que troco com pessoas neste idioma, me safar até de enroscos como perda de conexão, vôos, bilhetes e também do “esqueceram de mim” (é quando chegas em um lugar e simplesmente não tem ninguém te esperando e você não conhece ninguém).
O que ganhei? Incontáveis horas de alegria, de caminhadas por lugares que somente via em livros, por comer uma kafka numa esquina de Frankfurt, por andar de ICE, por ir na terra dos vikings, por ver o sol da meia noite na minha frente (e tirar fotos), por dormir em uma quadra de basquete com colegas de 8 nacionalidades diferentes, por tomar um café na frente da prefeitura de Erfurt e por trazer na bagagem muita saudade e no pasaporte alguns carimbos novos. Além disso, dezenas de novos amigos que viam no único brasileiro participando do evento, um cara “muito doido” e ao mesmo tempo “muito peitudo”.
Mas e se tivesse medo? E se ouvisse todos os poréns que me disseram antes da viagem? E se levasse em conta tudo aquilo que achavam que iria acontecer? O que teria feito? Simplesmente ficado em casa assistindo qualquer baboseira na TV e pensando como seria legal se lá estivesse.
Não fiz loucuras pois não sou dado à elas. O que fiz foi colocar o medo de lado e “meter os peitos” na viagem. Pensei na viagem, no que precisava, comprei os remédios que sempre tomo quando tenho qualquer indisposição (porque se quebrasse o braço em casa ou na Noruega seria a mesma coisa), arrumei a mala, verifiquei documentos e simplesmente entrei no avião.
Mas e o medo? Sei lá, deve ter ficado no meio do caminho entre minha casa e o aeroporto ou ainda em alguma mesa com cerveja :)
E você? Tem medo de quê???