Viajando como peba*

Na quinta feira próxima saio para gozar meu primeiro R&R (Rest & Restauration); um descanso a cada doze semanas (no caso de Dili/Timor) que vou usar para conhecer a Nova Zelândia com meu fiel escudeiro George. Serão 14 dias na terra do kiwi e também do Senhor dos Anéis, onde pretendemos conhecer a maioria das locações usadas pelo diretor Peter Jackson na trilogia. Sem dúvida uma viagem para ficar marcada na vida.

Mas claro que como voluntário da ONU não posso gastar como o Ronaldinho Gaúcho. Então tenho que me contentar com vôos em classe econômica e hotéis modestos. Sendo assim a preocupação para esta viagem não eram hotéis no destino. Conhecido como o país do backpacking (mochileiros), a Nova Zelândia dispõe de centenas de hostels baratos para ficar. O verdadeiro problema seriam as passagens aéreas que, se não bem procuradas, poderiam inviabilizar toda a viagem. Qual a solução? Conhecer um pouco do sistema aéreo mundial, algumas ferramentas da Internet e várias horas de pesquisas que renderam quase US$ 600,00 de economia para cada um dos viajantes. Como? Veja as dicas aqui de “como viajar como peba”.

Voando pelo mundo

A globalização trouxe algumas coisas boas no meio de toda a lama. As distâncias se tornaram menores em relação ao tempo e a competição mais acirrada. Como isso empresas aéreas que eram verdadeiros dinossauros tiveram que passar por uma reciclagem gigantesca e aquelas que não o fizeram, acabaram vendidas ou quebradas. Exemplos não faltam: Varig, Alitália, United, Swissair e outras gigantes foram engolidas por pequenas companhias ou por aquelas eficientes. Afinal de contas, raramente você vai para um avião como vai a um restaurante. O objetivo é voar e não comer e preferencialmente, sem atrasar.

Paralelamente foi criada uma estrutura tanto aeroportuária (em alguns países, claro) quanto de tecnologia com o intuito de suportar estes novos tempos e com uma vantagem: funciona! A organização do sistema aeroviário mundial é tão perfeita e funcional que não parece ser feito pelo homem. Claro que não estou falando de vôos atrasados por causa de problemas variando desde situação meteorológica até descaso como no Brasil. Falo da estrutura de controle de vôos, passagens e tudo aquilo que faz a pessoa estar sentada dentro de uma aeronave indo para o destino certo, seja este em que buraco do mundo for.

A base desta estrutura toda chama-se Amadeus, um sistema informático que gerencia todos os milhões de vôos feitos anualmente por todas as companhias aéreas do mundo em todos os continentes. É uma verdadeira massa de informações que até pouco tempo atrás podia ser acessada somente pelas agências de viagem (aquela tela preta que os atendentes usam e que você já deu uma espiadinha), mas agora está disponível na Internet para uso e acesso de qualquer pessoa com uma simples conexão. E ele é o ponto de partida para a economia em uma viagem aérea.

A escolha da rota

Se você está viajando em férias ou fazendo turismo, a escolha da rota é a parte mais importante de sua viagem. Muitas vezes é possível fazer economias absurdas trocando determinados dias ou horários para pegar um vôo mais barato. Assim, antes de selecionar o museu que vai visitar ou ainda o restaurante que vai comer, faça uma versão mais macro da viagem para equacionar os vôos com o que deseja. Como exemplo, vou usar esta viagem da Nova Zelândia para que fique bem claro o funcionamento de todo o processo. Aproveite pois até desenho tem!

Objetivo - Viagem para a Nova Zelândia
Origem - Dili, Timor Leste
Dias - 14
Possibilidade de paradas no caminho - Sim

Respondendo a estas quatro perguntas básicas, o primeiro passo é verificar quais as rotas existentes para o destino. Usando o Amadeus (www.amadeus.net) informo uma data próxima de partida e chegada, a origem e o destino e executo a busca. Logo depois são informados todos (sim, TODOS) os vôos existentes nesta rota na data solicitada. Com esta informação em mãos, parte-se para o garimpo aéreo que consiste em procurar companhias e tarifas que sejam as mais baratas possíveis.

A dica aqui é não abrir muito a data da viagem, ou seja, se irá viajar entre 1 e 20 de agosto, escolha estas datas no Amadeus. Com isso terá uma visão bem próxima do real. Não se preocupe, o sistema já possui dados de vôos para 2009! Assim, falta de opções não será ;)

Tela do Amadeus

A primeira opção que encontro é voar pela Quantas Airlines de Darwin até Auckland. Verificando o valor da passagem chego a bagatela de AU$ 1520,00. Com mais US$ 450,00 do vôo entre Dili e Darwin, a viagem ficaria em US$ 1680,00 sem contar algumas taxas e impostos no meio do caminho. Um absurdo de caro. Assim, volto ao Amadeus para uma segunda pesquisa mas desta vez nos resultados antes obtidos: “quais são as companhias que fazem a rota que desejo e quais são as “focus city” existentes?

O que é uma “focus city”?

Focus City é a expressão usada para denominar determinada cidade ou aeroporto que aglutina uma grande quantidade de destinos menores saindo desta. Como exemplo, o aeroporto Internacional de Brasília é uma focus city para o norte-nordeste pois a grande maioria dos vôos obrigatoriamente passam pela cidade. Da mesma forma que Singapura, Frankfurt e Nova York ou mesmo São Paulo (focus city para a América do Sul). Entenda que uma focus city não é necessariamente um aeroporto gigante ou cidade muito importante. Pode ser uma cidade menor mas que devido a sua localização, acaba sendo um “entroncamento” de vôos para outros destinos. Não conheço ou não existe uma tabela de “focus cities” mundiais, então para descobrir quais são as disponíveis em uma rota, vai-se pelo “cheiro”. As “focus city” também são conhecidas como “hub’s”.

Esta informação pode parecer tola mas é de muita valia quando precisamos procurar opções baratas de vôos. Muitas vezes um determinado vôo vindo de outro destino pode ser mais barato do que um saindo daquela cidade/aeroporto. Assim, conhecer as focus cities de passagem de sua rota é algo muito importante para quem deseja economizar.

No caso da minha viagem existem três: Brisbane, Melbourne e Sydney ,que foram identificados pela quantidade de conexões nas cidades e número de companhias aéreas. A partir disso verifiquei as companhias que fazem estas conexões para tentar uma opção mais barata e encontro outras cinco diferentes: VirginBlue, JetStar, Royal Brunei, Emirates e Air NewZealand. Com estas informações na mão, uma busca no Google retorna o site de cada uma delas que serão usados para montar os “bookings” de viagem.

A dica das focus cities é a seguinte: não procure uma que fica “antes” do seu destino. Por exemplo, nesta rota eu poderia escolher Perth, no oeste da Austrália. Entretanto a distância é tão grande entre os dois pontos que a passagem ficaria mais cara. Lembre-se, avião consome combustível e se está voando mais, vai pagar mais.

Companhias “low cost”

Verdadeiros metrôs alados, as companhias “low cost” (baixo preço) fazem a alegria do viajante peba. Ainda pouco conhecidas na América do Sul (somente a Gol no Brasil, que eu lembre), elas começaram a se popularizar com a americana Southwest Airlines e hoje são contadas as dezenas na Europa e Ásia. Nada de comida quente que consome energia (e combustível), nada de frescuras nos uniformes dos comissários, nada de grandes luxos. De outro lado, aviões novíssimos (reduz-se a manutenção) e sistemas computacionais eficientes fazem com que desde a venda de uma passagem até o desembarque do passageiro o processo seja o menos custoso possível e organiza os vôos de tal forma que as aeronaves permanecem o menor tempo possível em solo (reduz-se o custo do finger). Com toda esta economia, muito vai para o bolso do passageiro que pode pagar menos e fazer a mesma rota.

Das cinco companhias descobertas, duas são low cost: JetStar e VirginBlue. Uma rápida olhada na Air NewZealand mostra que ela não é uma opção viável para economia tanto quanto a Emirates. Assim, começo a traçar rotas nas outras duas, comparando uma e outra para verificar os melhores preços.

Mas existem poréns! Qual a melhor rota? Por onde ir e por onde vir? Compra-se todas as passagens na mesma companhia? A reposta para tudo isso é “paciência”. Criei três “books” de viagem com rotas alternativas em uma planilha e comecei a pesquisá-los. Finalmente indo por um lado e voltando pelo outro (no caso da Austrália), seria a opção mais barata e também a mais interessante pois poderia aproveitar o tempo de espera entre vôos tanto em Brisbarne como e Melbourne para conhecer um pouco destas cidades. Assim a melhor combinação ficou: Ida: Dili – Darwin – Brisbane – Auckland, Volta: Christchurch – Melbourne – Darwin – Dili

Rotas

  • linha azul – rota de ida
  • linha vermelha – rota de volta
  • linha preta – rota original (descartada por questão de custo)

  • booking final da viagem

Mas e a Royal Brunei no meio da história?

Se você observar o booking final, o vôo entre Brisbane e Auckland será feito pela KBrunei (Royal Brunei), uma companhia do Sultanato de Brunei, pequeno país encravado na Malásia. Esta opção foi a mais barata de todas as existentes pelo seguinte motivo: o vôo sai de Brunei, passa por Singapura, voa para Brisbane e finaliza em Auckland. Como a “perna” que vamos pegar é a última e a aeronave é um 767 (aquelas coisas graaaannnnddeesss), o valor da passagem cai muito (avião cheio, última perna e curta). Para esta decisão, claro, o Amadeus forneceu as informações do tipo da aeronave e também a rota do vôo. Com isso foi fácil chegar a conclusão que seria o mais barato, o que se confirmou depois no site da companhia.

Finais de semana, ótimo!

Vôos nos finais de semana, principalmente aos sábados após o meio dia e domingo são normalmente mais baratos, chegando a uma economia em alguns casos de 80% entre uma companhia e outra ou até mesmo entre vôos da mesma companhia. Devido a menor procura nestes dias por não serem dias de trabalho ou “úteis”, o aproveitamento das aeronaves é menor e por isso mais barato. Nesta viagem a diferença sempre foi maior que 40% quando os vôos escolhidos saiam e chegavam nos finais de semana.

Isto também é válido para os vôos noturnos ou aqueles que poderiam ser denominados “aterrorizantes” pelos almofadinhas de plantão. Se você voa durante a noite ou a saída/chegada é no meio da madrugada, certamente o vôo será mais barato que qualquer outro. Mas tome cuidado, dependendo da combinação feita, pode sair mais caro que um vôo normal pois teria gastos com táxi, alimentação ou até mesmo hotel. Pesquise, coloque na planilha e veja se vale a pena. E não se esqueça, você é peba, então pode se dar ao luxo de coisas pebas como dormir no aeroporto esperando um vôo :-)

Verifique os valores praticados em dias diferentes. Muitas vezes vale a pena aproveitar a diferença de valor para pagar um hotel e ficar na cidade. Ganha-se de ambos os lados pois poderá visitar um lugar que não conhece de graça, já que o valor que estaria gastando na passagem está sendo economizado e usado para outra coisa. Agora, se você é peba mesmo, pode ficar no aeroporto esperando o vôo do dia seguinte. Com isso embolsa a diferença.

Finalizando

Simples de entender: todo este exercício resultou em uma economia de US$ 510,00 por pessoa, o que paga com folga todos os hotéis na Nova Zelândia e também comida e aluguel de carro. Claro que é um exercício de paciência daqueles e não são em todos os lugares que este tipo de coisa pode ser feita. Mas sempre procure opções. Agências de turismo, por mais que você peça, não lhe darão os melhores preços. Inclusive a grande maioria das companhias low cost não disponibilizam suas melhores tarifas ou promoções em sistemas de agências, sendo muito mais barato comprar as passagens em seus sites pois não existe a comissão da agência ou de uso do sistema e a grana cai diretamente na conta delas (lei de mercado não?).

As dicas resumidas são:

  • Use o Amadeus (http://www.amadeus.net) para encontrar os vôos, rotas e tipos de aeronaves de sua viagem;
  • Não descarte companhias que não conhece. Muitas vezes elas podem trazer ótimas surpresas;
  • Procure flexibilizar as rotas. Pode ser melhor para você pois poderá conhecer outros locais e cidades;
  • Ande sempre para frente. Um vôo para trás normalmente é um mau destino;
  • Cuidado com os tempos de conexão. Como está adquirindo passagens de vôos diferentes e não conexões diretas, se atrasar um vôo, vai perder os outros;
  • Prefira companhias low cost entre rotas pequenas. O serviço não é ruim e voa do mesmo jeito;
  • Observe se existem promoções nas companhias para um destino próximo ao seu. Pode ser vantajoso;
  • Verifique se a companhia tem alguma política de desconto na compra de “round trip” (passagem ida e volta). Muitas vezes pode economizar mais um pouco ainda.

Espero que sejam úteis as informações aqui descritas e aguarde o próximo booking: Bali – Frankfurt – Bali. Outro exercício de paciência e economia ;)

*peba – expressão nordestina que indica algo ou pessoa pobre, pé rapado.

6 Comentários

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  1. Já recuperado do jetlag e com a baderna do retorno organizada, é hora de começar a escrever os diários de bordo da viagem feita durante este mês para a Europa. Algumas pessoas já conhecem meus diários de bor

  2. boas dicas ……obrigado.

  3. obrigada, paulino: quero visitar dili e uma filha está aí a trabalhar, e com estes bitaites acho q vou conseguir arranjar uma viagem a preço suportável, a partir de portugal. quanto ao jetleg e tempo de viagem …”é guerra, é guerra…” (será q a anedota é conhecida no brasil?)
    que as suas ferias na nova zelandia sejam alegres!

  4. Olá Renato. Obrigado pelo comentário e também pela info sobre o link do PDF. Já está corrigido.

    Abraços

  5. Excelente artigo, Paulino. Vou deixar no meu del.icio.us para quando precisar. Só o link para o download não está visível.

    Abraços,

    Renato

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