Aos dezessete anos tomei um tombo besta numa moto de um amigo. Estava participando de uma gincana em Paulínia quando estava levando uns discos com uma mocinha na garupa e, numa curva a 20km/h passei por um monte de areia e fui para o chão. No tombo, nada quebrado em mim, na menina ou na moto mas em compensação ganhei um presente que carrego até hoje: uma luxação no ombro direto.
De lá para cá foram quinze vezes, contando com a última ocorrida nesta semana quando estava dormindo. Digo que a rosca do braço já foi para o além pois num susto, ele sai do lugar. Se não fosse a dor astronômica, deixava assim mesmo por mais algum tempo mas não será possível. Este ano ainda entro na faca, ou melhor, no robozinho para colocar uma nova cápsula e alguns pregos (mais ou menos uma retífica). E o assunto deste post vem do absurdo passado nesta última vez que ele saiu do lugar.
Duas e meia da manhã, tendo algum pesadelo (deve ser com algum cliente ou ainda meu Mac com Windows instalado, vai saber), acordo com o braço fora do ombro. Muito bem, toca ir para o hospital passar pela mesma coisa de sempre: tirar radiografia para saber se a cabeça do úmero quebrou ou se algum osso da cravícula sofreu danos, espera pela sala de cirurgia, anestesista preparar a “droguinha” e o ortopedista colocar no dito no lugar. Como sei disso tudo? Ora, depois de quinze vezes você sabe desde o processo como um todo até o nome da droga que toma para tirar uma soneca.
Mas foi diferente. Cheguei no Hospital do Tatuapé andando como um aleijado segurando o braço que só está ligado ao corpo pelos músculos e pele. Faço a ficha, espero um pouco e sou chamado para a sala de ortopedia. Lá chegando, um médico com menos de 30 anos e uma enfermeira com mais de 50 começam a me atender. Ela com aquele ar de “sabe tudo” e ele, com meia dúzia de pêlos na cara dizendo para se deitar. Amavelmente me recuso explicando que não é possível fazer isso por causa da dor intensa e da localização do osso (por baixo do músculo do peito). Explico que o procedimento de redução não funciona comigo devido meus quilos a mais e minha estrutura corporal. Neste momento começam os problemas.
Cheio de vitalidade e arrogância típica do bunda mole que fez uma bosta de faculdade de esquina e está num PS qualquer da cidade de SP, ele dá uma risadinha dizendo que este é o procedimento, doa a quem doer (em mim, quer dizer). Simplesmente recuso-me e lhe ofereço duas alternativas: ou me manda para a sala de cirurgia para fazer a redução comigo sedado ou vou-me embora (redução é o procedimento de colocar o braço no lugar). Não acreditando no que ouve (ele não deve tratar muitas pessoas com um pouco de inteligência e conhecimento onde trabalha), sai para chamar seu comparsa de plantão que, para minha surpresa é mais arrogante ainda. Chega dizendo que não vai fazer redução em sala de cirurgia porque não é necessário. Mesmo recitando o artigo 6º do Código de Ética Médica, não teve jeito, o cara queria que eu sofresse (ler este artigo seria bom).
Neste momento disse simplesmente “ok, estou indo embora”. Levanto-me para sair e o dito me diz que não iria sair de lá. Ai meu amigo, começa o bate-boca de verdade com ele dizendo que não precisa de sedação porque já tinha feito naquela semana outra redução em um cara mais pesado que eu e mais forte e que não me levaria para a cirurgia. Bocudo que sou, perguntei quantas vezes ele tirou o braço do lugar (com a resposta certa: nenhuma) e como ele poderia dizer que o procedimento que fez em outra pessoa funcionava também comigo se nem mesmo colocado os olhos em meu problema tinha posto? E mais, como poderia dizer que aquele procedimento era o correto para meu caso e podia saber mais de meu corpo que eu mesmo que já tinha passado por aquela coisa quinze vezes, sendo duas delas em Timor-Leste com médicos cubanos que serviam para ser professores dele?
Para não estender muito o post. Saí da sala dizendo ao mesmo que ali o assunto não se resolveria porque aquilo que são instruídos a fazer é não gastar com anestesia, sala de cirurgia e outras despesas adicionais pagas pelo governo e que o problema seria resolvido na base do dinheiro (que se resolveu mesmo em um hospital particular). No resumo da ópera é isso mesmo: médicos são instruídos a não gastar o dinheiro público pois fazer uma pessoa com um braço luxado ficar em uma maca passando lençol no ombro e morrendo de dor (já cheguei a desmaiar por causa dela) ao invés de fazer o procedimento correto é demais da conta. E o pior, no ano passado passei no mesmo hospital e diretamente fui para a cirurgia. Dá para entender?
Aos médicos, um recado: leiam o código de ética. Ele não é para ficar esquecido em algum escaninho de sua escrivaninha. O parágrafo 6º deve ser sempre lembrado: “O médico deve guardar absoluto respeito pela vida humana, atuando sempre em benefício do paciente. Jamais utilizará seus conhecimentos para gerar sofrimento físico ou moral, para o extermínio do ser humano, ou para permitir e acobertar tentativa contra sua dignidade e integridade”. Aos demais leitores, infelizmente o sistema privado, mesmo caro, ainda é o melhor que se tem.
Wilson
26/01/2011 — 06:41
O problema maior no atendimento publico no meu vê é a maneira de como somos tratado, o cara faz a consulta e não tem coragem nenhum de olhar na cara da gente, como se estivesse fazendo um favor, agente paga! e paga cara por isso, se eles não recebem o que realmente merece eu não sou culpado! isso é problema de quem administra.
por que o profissional que atende publico e particular, no particular é tão educador?
Lucio Silva
28/12/2010 — 09:23
Paulino
sou técnico em raios x,e trabalho a bastante tempo na area de saude,principalmente em setores de emergencia
posso te dizer que na maioria dos casos a reduçao de ombro é realizada sem anestesia no propio consultorio. ate porque o procedimento com anestesia tem muitos riscos de reaçao ao anestesico,principalmente em pacientes obesos como vc disse que e seu caso.
esse e um dos motivos pelo qual os medicos temtam primeiro a reduçao comum.
e tambem convenhamos que uma luxaçao de ombro nao e um caso tao grave,que tenhamos que recorrer ao centro cirurgico por qualquer caso.
eu sei que “cada caso é um caso”, mas é o proceder de qualquer ortopedista tentar a reduçao comum,antes de qualquer outra atitude.
só pra vc ter uma noçao,a maioria das fraturas que sao piores que a luxaçao, sao reduzidas sem anestesia.
OBS: o mesmo profissional que te atende no setor publico,tambem te atende no setor privado.
George
05/07/2010 — 07:03
Aos dezessete tomou um tombo besta numa moto de um amigo e aos 30 e lá vai cassetada, levou um tombo besta de uma bicicleta no meio das ruas de Dili! Nossa! vc tá progredindo meu amigo! hahahaha…
E nem reclama da saúde do Brasil porque vc “experimentou” o tratamento oferecido pelos profissionais da ONU e viu no que deu! kkkkk…
E aí nego, vamos dar uma voltinha de ambulância de novo?
Abração!
Eder L. Marques
19/04/2010 — 19:06
Paulino e o seu braço…
De fato, essa posição imbecil é encontrada por demais no nosso País.
Sorte sua e dos poucos deste Brasil que ainda tem acesso a medicina privada.
Um abraço