Parece-me que as pessoas passam por uma crise de identidade tão grande quanto a incerteza do que nos reservam os próximos dez mil anos. Não falo da incerteza de não saber o que vai ser ou deixar de ser no futuro. Eu mesmo não sei o que vou ser e tampouco me preocupo com isso. Acho uma perda de tempo imensa tentar prever o futuro e, como não tenho bola de cristal, piora. Fazer planos numa vida que pode acabar em um mísero segundo é no mínimo tolice.
Mas no afã de ser algo para a sociedade que cobra a cada dia mais resultados, mais esforços e mais suor e lágrimas, pessoas esquecem a essência do que são; absolutamente nada. Isso mesmo, nada vezes nada. Simplesmente um aglomerado de átomos que deram a baita sorte de estarem organizados de tal forma a montarem um corpo e este andar sobre outros átomos também organizados em forma de terra e água. Crer que somos alguma coisa mais que isso só pela capacidade de raciocínio, é perpetuar o erro que nossos pais e avós legaram quando insistentemente cobravam que “precisávamos ser alguém na vida”, completando com um título ou nome de profissão o final da frase.
Que decepção não é mesmo? Você aí pensando que é um advogado, médico, professor, psicólogo, empresário ou qualquer outra coisa “importante”e lê algo assim. É para se enforcar num pé de couve. Nenhuma destas atividades é realmente você. São somente atividades para as quais está doutrinado a exercer e nada mais que isso. Alguns até gostam do que fazem, outros nem tanto. E o mais interessante é que boa parte destas pessoas lêem todos os dias os certificados de pergaminho pendurado na parede, estrategicamente colocados como para lembrá-los do que são, mesmo não sendo.
Quando trabalhei na Cobra Tecnologia, empresa meio governo, meio privada, conheci vários que tinham este problema. Bastava o caldo engrossar ou não ter argumento factível para continuar uma conversa que rapidamente aparecia a célebre frase “você sabe com quem está falando?” Lá aprendi sempre a perguntar quem a pessoa era antes de começar qualquer conversa pois no caso de ser pego de surpresa por tal pergunta, podia responder facilmente quem ela era sem medo de errar. Como alguns não eram nada mas aparentavam ser, é melhor saber de antemão para não cometer gafes.
O vídeo acima do Mário Cortella é uma resposta muito bem humorada para esta questão. Nele, a explicação não somente científica mas principalmente psicológica sobressai de forma simples e fácil para que qualquer homo-sapiens possa entender. Ele até poderia ter levado adiante a fragmentação de quem é cada um de nós mas creio que preferiu não criar pânico entre aqueles que piamente acreditam que são alguma coisa além de… átomos.
E existem outras ferramentas para corroborar esta afirmação. Uma delas é a indicação que recebi hoje de minha mãe por e-mail (sim, ela é interneteira); um site que deixa qualquer um de boca aberta e onde é possível navegar pelo nosso sistema solar e por milhares de estrelas que fazem parte de nossa galáxia (que é uma entre outras 200 bilhões, lembra-se?). Como ela bem disse, imagine se tivéssemos acesso a coisas assim no passado. Será que teríamos esta crise de identidade tão ampla nos dias de hoje?
Finalmente, o mais importante é a mensagem subliminar que fica quando olhamos tais coisas. Será que somos mesmo alguma coisa?