Fim de tarde em PortlandA primeira parte de minha primeira estada nos EUA já acabou. Foram 4 dias em Portland, no estado de Oregon com bastante coisa para contar mesmo não fazendo turismo realmente, afinal esta etapa da viagem seria de trabalho e não de passeio. Mesmo assim, perambulando pelas ruas da cidade nos fins de tarde, que nesta época se estendem até as oito e meia da noite, pude ver algumas coisas interessantes sobre “los gringos”. Mas antes, um pouco da saga até Portland.

Saindo de São Paulo
Sem nenhuma dúvida meu amigo, no aeroporto de Guarulhos, fila! Uma enorme fila na Continental/United para realizar o check-in. Eu realmente não entendo porque brasileiro gosta tanto de filas, piorando a cada dia. Mas como não tem solução, toca esperar na fila ouvindo a conversa mole de um qualquer que estava à frente contando os causos mais absurdos possíveis sobre as coisas mais estranhas. Só faltou dizer que tinha passado férias em Nárnia.

E a fila anda e lá vou eu passar pela segurança, que de segurança não tem nada. A mocinha que pouco lembrava Alice Braga em “Predators” educadamente pede meu passaporte e quando olha; “você é italiano?” Neste momento, respiro fundo, lembro-me dos carneirinhos vistos na Nova Zelândia, conto-os mentalmente e digo “também”, mesmo tendo vontade de dizer “não querida, sou nepalês, não está vendo?”. Mas mamãe disse que preciso me controlar, relevar e entender que acefalia é uma má formação congênita. Sábia a velha :)

Após o serviço de segurança, outro soberbo comentário na hora de entregar a bagagem: “nossa, que bonito, foi você que fez? (referindo-se aos badges que tenho na mochila)” A resposta: “sim, foram os países por onde já passei” (lembre-se, controle). “Gostei muito viu mas não sei onde fica nenhum deles” (respira….).

Depois dessas, saio do terminal para fumar um cigarro e aproveitar o tempo que faltava para o embarque tentando compreender porque a humanidade é assim.

A chegada nos EUA

O'Hare Intl. Airport

O’Hare Intl. Airport

Depois de 10 horas de voo que passei grande parte dormindo (arrumei um remedinho meu chapa, sensacional), chego no aeroporto internacional de Chicago chamado O’Hare. Ele é assim: junte Cumbica, Congonhas e Galeão num só e terá O’Hare. Mas retire a ineficiência crônica da Infraero, a estupidez da ANAC e a lerdeza do governo em fazer algo decente que chega perto do que é este aeroporto. Ele é grande, grande mesmo. 5 terminais espalhados por uma imensa área com uma eficiência digna de primeiro mundo. Creio que O’Hare (ORD) é o hub da United/Continental pois a quantidade de aviões e posições deles dentro do aeroporto é algo invejável. Enquanto a Gol tem algo como 20 ou 30 posições de check-in, esta companhia tem 80.

Mesmo o avião tendo gente saindo pelo ladrão, o desembarque foi rápido e em menos de 10 minutos estava na fila de imigração. Aqui, uma surpresa. Crente que o passaporte italiano me tiraria de filas, me lasquei. “Los gringos” colocam americanos e residentes de um lado e o resto do mundo do outro. A coisa é tão engraçada que até mesmo os canadenses (o avião tinha uns 80 que participaram dos Jogos Militares no RJ) são colocados na fila das marmotas. Japoneses, alemães, canadenses, franceses, brasileiros e claro, italianos. Tudo na mesma salada.

Mas assim mesmo o vermelho me traz vantagens. Em minha vez apresentei o passaporte, o fulano da imigração perguntou se tinha feito o ESTA (a autorização de viagem) e se estava tudo ok. Enfia o passaporte na maquineta, escaneia, pergunta quantos dias fico, bate carimbo (FDP, podia bater no lugar certo né?) e pronto. Em contrapartida tinha brasileiro se explicando nos guichês naquele portinglês que dava dó. Honestamente, foi tão simples quanto fazer imigração em Buenos Aires, exceto pelo cara que não era argentino :)

E a bagagem?
Você acha mesmo que a Infraero deles ia dar motivo para que eu falasse mal? Claro que não. Saí da imigração e lá estava minha mochila na esteira pronta para ser resgatada, vinte minutos após ter desembarcado. Acha muito? Amigo, são quase 250 pessoas em um voo internacional com aquele mundaréu de mala (não sei como as pessoas viajam com mais de 15Kg de mala) que 20 minutos após o avião ter estacionado, estavam disponíveis na esteira. Deu para entender o que é “eficiência”? Você realmente já viu algo parecido em algum aeroporto brasileiro, mesmo que seja o menor ou mais perdido? Nem mesmo os aeroportos do Acre são assim.

Feito isso, precisava procurar o local para fazer o check-in nacional, afinal ainda tinha mais 4 horas de voo até Portland. Dentro do aeroporto já encontrei as indicações para onde deveria ir e na hora de entrar na fila, o tiozinho me pergunta sobre cartão de embarque. Como não tinha, me indica um monte de maquinetas no saguão para fazer o check-in. Aqui a coisa é assim. Entrega-se a mala depois que o check-in está feito na maquineta. Ganha-se em agilidade e velocidade no atendimento aos passageiros.

Mais algum tempo de espera que aproveito para fumar um cigarro do lado de fora do aeroporto e observo o primeiro ícone americano: limousines. Não era uma limousine, eram várias estacionadas, chegando, saindo. De uma delas me salta uma família que só faltou o papagaio. O que tinham de malas não está escrito. Vendo isso lembro-me de um comentário de amigo meu, Zé Roberto, que disse ser comum este tipo de coisa. Aluga-se a limousine porque está indo para o aeroporto com um monte de mala, filhos, netos, cachorro, empregada, carrinho de bebê e o escambau. Com isso o custo fica muito mais barato. Então se pensa que é coisa para milhardário, tire de cabeça. É pura questão logística (claro que tem aqueles que podem…).

Uma das diversas "limos"

Uma das diversas “limos”

E vamos embarcar. Na fila do raio-x tira laptop da mochila, tira coisas dos bolsos e… tira sapatos! É isso aí, tirar sapatos é obrigatório para todos, sem exceção. Para mim, tudo bem. Há muito não tenho chulé e não ando de meia furada. Mas foi interessante ver duas executivas que deviam estar voltando para casa tirando os sapatos de salto alto e ficando só de meias finas na área do raio-x. Passo por ele sem problema nenhum, calço novamente os sapatos, enfio as coisas na mochila e vou para o portão de embarque. No meio do caminho, pausa para tomar um daqueles cafés horríveis que só os americanos sabem fazer.

No embarque, outra surpresa. Você pode entrar no avião com UMA mala. Não importa se ela tem quize quilos mas tem que ser UMA mala e ela entrar no maleiro sem ficar de lado (as mulheres podem entrar com sua inseparável bolsa PEQUENA e uma mala). Pode parecer estranho para nós mas explico porque assim é o correto a se fazer, ao contrário da imbecil da ANAC que agora quer limitar o peso em 5Kg na cabine.

Todo mundo reclama, com razão, da zona que é a entrada e/ou saída de um avião no Brasil. Isso nada tem a ver com o peso da mala, mas sim com a mala e com a quantidade de malas existentes (sem trocadilhos, não estou falando “dos” malas). Brasileiro(a) voa com uma mala, uma sacola, uma necessarie (que algumas são uma mala pequena), com gaiola e por aí vai. Para colocar tudo isso dentro do maleiro, perde-se tempo, fode a fila e irrita todo mundo. Mas se a pessoa pode carregar uma mala de 10, 12 quilos e esta ser levada dentro do avião, para que vai enfiá-la no porão do avião, esperar na esteira, dar trabalho para as empresas ou funcionários? Não é mais simples levá-la no maleiro? Claro que sim. Então sabendo e sendo permitido levar uma mala de tamanho “X” mesmo que esteja pesada, o passageiro vai preferir levar dentro do avião; ÓBVIO!

O que acontece nos EUA: você pode levar uma mala, mesmo que pesada, mas somente UMA! Tudo aquilo que passar de uma unidade, tem uma tiazinha na porta do finger dizendo que não pode levar e etiquetando para colocar no porão (tiazinha anti-espertinhos). Com isso a maior parte dos passageiros conseguem sair do avião rapidinho e seguir seu rumo, as companhias ficam com as aeronaves menos tempo no solo e todo mundo ganha. Até parece o Brasil não é?

Enfim, alguns espertinhos deixaram suas malas para serem colocadas dentro do avião e rapidinho estavam todos sentados prontos para seguir viagem. Como sempre, sou o último da fila (gosto) e percebi que mesmo o avião estando cheio até a boca, o tempo de embarque foi menor que qualquer voo dentro do Brasil. Porque? Créditos às malas organizadas e a falta de sacoleiros.

Chegando em Portland
4 horas depois estava chegando em Portland na costa oeste americana. No aeroporto a mesma coisa: eficiência! Minha bagagem já tinha sido etiquetada no Brasil até Portland e quando desço as escadas pensando que demoraria para chegar a bagagem e teria tempo para um cigarro, vejo a mochila passeando na esteira. Pego-a, coloco nas costas, compro um café, pego um mapa do sistema de transporte da cidade e vou para fora fumar um cigarro.

Gringo quando chega no Brasil, se fode. Em qualquer aeroporto não existe metrô e ele fica de cara com isso. Eu realmente não me lembro, exceto em biroscas como Vietianne ou Hanoi, de aeroporto sem um sistema de transporte sobre trilhos eficiente. Frankfurt tem dezenas de linhas de tudo que é coisa (ICE, IC, U-Bahn, etc), Cingapura um belo metrô, Kuala Lumpur com seu trem expresso e por aí vai. Cidades como São Paulo ou Rio não terem algo do tipo não é vergonha, é rídiculo!

O bonde de Portland

O bonde de Portland

Portland, uma cidade com 600 mil habitantes tem um sistema de transporte sobre trilhos sensacional. Uma linha sai do aeroporto direto para o centro e esta se conecta com outras 3 que levam o passageiro para qualquer lugar da cidade e cidades próximas. Tudo pelo “absurdo” valor de US$ 2,35. No aeroporto, comprei o ticket numa máquina (nada de gente vendendo ticket) e 12 minutos depois embarquei. “Onde enfio o ticket”? “Em lugar nenhum seu pobre de terceiro mundo, você fica com ele no bolso e só apresenta se pedirem, igual na Alemanha” (vai fazer isso em SP vai). Depois de uma viagem de 35 minutos em uma espécie de bonde moderno, descia no Oregon Convention Center onde se realizava a OSCON 2011, evento que iria cobrir para uma empresa brasileira (não vou falar dela, mas sim da viagem).

No final de meu trabalho deste dia, vou para a guesthouse que ficava do outro lado da cidade. Para isso, peguei o bonde e 30 minutos depois desço na estação da Universidade Estadual de Portland. Detalhe: não pagava por esta viagem e por nenhuma outra dentro do perímetro que é chamado “free zone” que abraça todo o centro da cidade e algumas estações próximas, inclusive a que estava. Chego na guesthouse, faço o check-in, deixo as malas, tomo um banho e desço para andar um pouco pela cidade, afinal ainda eram 7 da noite e o sol só iria se por lá pelas 8 e meia. Também precisava comer pois estava desde São Paulo somente com um pacote de salgadinho no estômago.

Portland
Conhecida como a “cidade das rosas”, Portland é tranquila, bonita e extremamente bem arborizada. Andando por suas ruas onde não se encontra lixo jogado e tampouco buracos, é um verdadeiro contraste sobre todas as imagens que se vê dos Estados Unidos e que lembra muito algumas cidades bucólicas que conheci na Alemanha e também na Áustria. Sua organização é perfeita com ruas largas, bem sinalizada e acredite, educada. As pessoas param nos semáforos para atravessar, os carros param para deixar pedestres passar e mesmo com um grande número de bicicletas (parece que todo mundo tem uma), não percebe-se problema entre ciclistas e carros.

Portland também é conhecida como beervana ou beertown devido ao grande número de microcervejarias existentes na cidade e a profusão deste líquido nos bares. Num ao lado da guesthouse encontrei nada menos que vinte marcas diferentes de cerveja servidas tanto em modo draft (canecas/copos) como em garrafas. Algo para deixar qualquer alemão feliz da vida.

Mesmo com tudo isso Portland parece um pouco estéril. Não se vê muitas pessoas nas ruas e o mesmo acontece com veículos. São poucos para uma cidade deste porte (seria por causa do sistema de transporte público eficiente?). Também não encontram-se grandes shopping centers ou letreiros/outdoor gigantes, exceto por um na frente da Rose Arena, local onde são realizados os jogos de basquete do Portland TrailBlazers, conhecido time da NBA. Árvores, fontes, parques, flores, mais árvores, mais parques, mais praças é tudo o que se vê. Isso não tira a beleza da cidade, pelo contrário. É um lugar certamente muito bom para se morar, principalmente se a pessoa procura tranquilidade.

Ao longo dos dias que passei pela cidade, percebi nuances interessantes dos americanos. A primeira delas é que… estão fodidos. Andando por suas ruas quase não é possível encontrar carros americanos. BMW’s, Audis, Mercedes e todo o tipo de carro asiático é visto, mas Ford, Chrysler, Chevrolet e Dodge, raros. Da mesma forma as lojas não possuem aquele furor que vemos normalmente em filmes de Hollywood. Existem, claro, mas não estão apinhadas de gente, mostrando que a economia deles não anda lá aquelas coisas mesmo. Mas como sou de fora e turista, cada um com seus problemas.

E a comida?
Ahhh, comer. Este hábito tão secular e prazeirosamente elevado a religião pelos italianos é difícil de ser exercido nos EUA. Comida mesmo? Esquece. Não encontrei, mesmo tentando, algo que fosse comparado a uma padaria ou boteco de esquina, fosse em Portland ou mesmo em Chicago. O que encontra-se é a cultura do fast-food que acintosamente lhe oferece todo o tipo de gordura possível. Se deseja comer algo mais saudável ou até mesmo com um pouco mais de sabor, vai ter que penar e muito.

Pizza Made in USA

Pizza Made in USA

Mas dei um pouco de sorte. Como a guesthouse que me hospedei fica no distrito estudantil da cidade, tinha próximo uma boa quantidade de bares e estabelecimentos onde podia comprar algumas coisas menos estranhas. Num bar bem ao lado chamado Schimmiza, serviam pedaços enormes de pizza (nada comparado a qualquer birosca paulista) e também um espaguete que salvou a pátria por vários dias. Com cerveja para empurrar a massa meio sem graça, podia enganar o estômago que pensava estar em sampa e não aumentar tanto o nível de colesterol do sangue. Por estas e outras que entendo quando meu amigo Ryan chega no Brasil, sai correndo para um boteco qualquer e pede uma coxinha. Faz uma falta que não se tem idéia.

os 7Eleven da vida também ajudaram. Neles pude comprar suco de laranja (industrializado, claro!) e biscoitos para matar a fome noturna mas realmente é um pecado um lugar assim não ter boas opções de alimentação. O corpo sofre!

Deixando Portland
No sábado de madrugada deixei Portland rumo a San Francisco. Depois de realizar meu trabalho de cobertura do evento, era hora de voar um pouco mais ao sul e conhecer a “Paris do Oeste”. Como meu voo era cedo, fiz o trajeto que precisava na Internet verificando os horários de bondes e o horário do voo. Numa ferramenta muito boa, o sistema público indica os horários dos bondes em cada uma das estações, além do tempo que levaria de jornada e a chegada no aeroporto. É impressionante como estas coisas funcionam bem no primeiro mundo. Tinha um bonde passando as 04:52 da manhã na estação mais próxima de onde estava que me deixaria no aeroporto as 05:42 com tempo suficiente para fazer o embarque. Mas como sou meio São Tomé, resolvi ir mais cedo, afinal, vai que passa antes. Que nada. Exatamente as 04:52 o dito cujo abriu as portas na estação e as 05:41 abria no aeroporto. Assim não dá para ser feliz!!!

No aeroporto, mesma rotina: desembarca, faz check-in, entrega a mochila, compra café e sai para fumar. Desta vez na segurança toca o alarme mesmo eu não tendo nada nos bolsos ou na roupa. Resultado: pegam todas as minhas coisas, levam para uma área da segurança para fazer um teste… no meu tênis! Achei meio estranho mas a moça me explicou que é rotina fazer isso para verificar se tem algum vestígio de substância explosiva ou coisa do tipo. Imaginei que seria por causa da meia velha ou do próprio tênis com algum cheiro estranho mas em 15 segundos sai o resultado com alarme falso. Era só sujeira mesmo :)

Na hora do embarque o mesmo procedimento de malas (espertinhos querendo entrar com duas sendo parados), me acomodo na poltrona e deixo o sono vir, afinal saí cedo da cama para literalmente não perder o bonde. Com uma hora e meia de voo daria para dormir um pouco e repor as energias para perambular em San Francisco, tema de outro post aqui.