Você consegue ficar um dia inteiro quieto, sem assistir TV, sem sair na rua, sem ligar para a prima ou amiga e ficar fofocando? Impossível? Não, pelo menos na ilha de Bali na Indonésia.
Conta a lenda que os deuses descem do céu todos os anos para ver como estão as coisas na terra. Andam por ela para ter certeza que não existe muita baderna e como não encontram ninguém pelas ruas, nenhuma luz, nenhum som, ficam satisfeitos e retornam às suas moradas. Caso contrário…
Longe das lendas locais, o dia do silêncio marca o início do ano hindu na Ilha de Bali e mesmo aqueles que não são hindus, respeitam este dia (que é móvel de acordo com o ano). Neste dia, não é permitido sair das casas, não se trabalha, não se viaja, luzes devem ficar apagadas e não se deve comer. Até mesmo o aeroporto internacional de Bali (Denpasar – DPS) fica fechado durante este dia para pousos e decolagens, exceto para aqueles de emergência, sendo o único aeroporto do mundo que fecha por um dia inteiro por motivos que não sejam mau tempo.
Pode pensar o desavisado que isso é somente para os hindus. Não é. Turistas ficam dentro dos hotéis (que não permitem a saída das pessoas às ruas), praias vazias, ruas silenciosas. Todos respeitam e aqueles que não, são convidados pelos pecalangs, seguranças tradicionais do Nyepi a respeitar, voltar para suas casas ou hotéis e lá ficar. É realmente um dia destinado ao silêncio, a meditação e a auto-reflexão.
No dia que antecede o Nyepi, acontecem nas cidades e vilas de Bali o Butha Yajna, ritual para vencer os maus elementos do mundo e criar sintonia entre os deuses, a natureza e os seres humanos. Parte desse ritual são as paradas que acontecem parecidas com os desfiles carnavalescos onde ogoh-ogoh’s, bonecos feitos de papel e bambu representando entidades demoníacas e maus espíritos são carregados pelas ruas até o Ngrupuk, um outro ritual onde esses bonecos são queimados.
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E após o Nyepi, outro ritual toma conta da ilha. É o Ngembak Agni, realizado por todos os hindus que se perdoam por mágoas ou rancores e dão as boas vindas para o ano que está começando.
Todos estes rituais fazem parte de uma cultura que visivelmente tem muito a ensinar. Confesso que não consegui ficar um dia inteiro desconectado do planeta (tanto é verdade que este post foi escrito no Nyepi) mas consegui de alguma forma sentir o silêncio do ambiente e este impregnar os pensamentos e a mente, tentando de alguma forma, aproveitar um pouco dessas vinte e quatro horas para, digamos, pensar na vida.
Valeu a pena!