Douglas Martins Rodrigues, 17 anos, estudante do 3° ano do ensino médio, chapeiro de uma lanchonete e morto pela polícia de São Paulo.

MORTE,ADOLESCENTE

Não sei o que dizer. Chorei muito ao ler a frase que teria sido dita pelo adolescente e que seu irmão de 13 anos ouviu enquanto a vida de Douglas escorria pelo buraco da bala que entrou no meio de seu peito. Sem perguntar, sem falar nada, um policial dentro de uma viatura atira no peito do garoto.

Consternado é a melhor palavra para definir o que sinto. Medo não pois já fui assaltado a mão armada por 3 garotos que me amarraram e jogaram um lençol por cima. Raiva não tenho porque perdi há algum tempo o mecanismo de sentir raiva diante das mazelas deste país de estúpidos que votam em filhos da puta. Ódio não cabe pois se coubesse, o inferno já estaria cheio de párias de todos os tipos.

Consternado por ter certeza que não existe mais solução. Para aquele que nunca saiu de sua cidadezinha no sertão do país e que recebe a esmola governamental, está tudo bem. Para mim que tive oportunidade de ver sociedades melhores que a nossa, é difícil engolir os desmandos, os assaltos e acima de tudo, a mansidão do brasileiro.

Uma pena. Teríamos tudo para ser um ótimo lugar para se viver com uma sociedade mais justa, mais correta. Mas quem liga? Temos a copa do mundo chegando, temos as olimpíadas, temos anitas e faustões. Temos pagodeiros traficantes de mulheres, senadores que roubam ambulâncias e medicamentos, ministros que destroem a educação e prefeitos assassinos. Até mesmo deputados procurados pela Interpol temos. Quem mais queremos?

Douglas, lamento por seu infortúnio. Lamento por Deus ter lhe colocado nesta merda de país e que você tenha nascido pobre. Lamento pela minha geração que criou ignóbeis que não sabem votar. Lamento por termos escolhido os piores possíveis para governar e que nada fizeram para lhe ajudar. Lamento por sermos bundões e mansos ao ponto de aceitar.

Douglas, lamento.