Se você acha que o trânsito de São Paulo é caótico ou ainda que os moradores do interior do Brasil são todos “roda-presa”, prepare-se: a Isla Margarita é o inferno na terra em matéria de trânsito.
Não é possível ficar 15 dias em uma única praia. Por isso resolvi alugar um carro para conhecer o restante da ilha (que depois conto sobre) já que o transporte público é aquilo que pode ser chamado de carroça ou pior, de merda com M maiúsculo. Isso quando existe algum. Como já paguei meus pecados de andar em coisas estranhas na Ásia (principalmente em Timor Leste, Indonésia, Camboja e Vietnã), não estava muito a fim de passar o mesmo por aqui. Então, loca-se um auto.
O processo é simples; qualquer locadora vai te alugar um carro se estiver com seu passaporte, carteira de habilitação brasileira e um cartão de crédito com um bom limite. No meu caso, bloquearam US$ 1900,00 no cartão para caso de problemas ou desaparecimento do carro. A habilitação pode ser até falsa que não vão verificar. É algo somente pro-forma para pegar o número dela e pronto. Paga-se o valor do aluguel e sai com o carango na hora.
Em meu caso, procurei uma locadora pertinho do hotel pois não tinha alugado no aeroporto ou reservado antes de sair do Brasil. A dica é que não vale a pena pagar mais por nada. Se você for alugar em uma Hertz ou Avis da vida, vai pagar muito mais caro pela mesma coisa. De experiência própria, as locais normalmente tem preços muito melhores que as internacionais (foi assim na Nova Zelândia e no Chile) e o valor varia e muito. Num raio de 1km do hotel existiam duas locadoras: numa o carro custava Bs 218,25/dia e na outra Bs 278,20/dia (com tudo incluso). A diferença de veículo, nenhuma. Aluguei um Suzuki Forenza 2005 automático com direção hidráulica e ar-condicionado (além de outras frescurites) mais barato que um Toyota Yaris. Para mim o que importa é andar e não se o carro é todo cheio de cacareco.
Dica especial: se você for ficar, por exemplo, 30 dias na ilha, compre um carro. Isso mesmo, compre um. Você vai encontrar latas-velhas por menos de mil dólares e consegue economizar pelo menos uns 500 dólares nesta brincadeira. Depois, pode vender o dito cujo rapidinho por metade do preço ou jogá-lo do precipício.
O trânsito
Uma beleza! Digno de verdadeiros infernos. O venezuelano aprendeu a dirigir na fazenda ou no sertão pois desconhece o que é seta (e quando liga, sempre esquece ligada), entra no meio do cruzamento sem maiores delongas e para em qualquer lugar, inclusive no meio da rua. Não importa se você vem atrás a 200Km/h, o cara para e você que se vire para frear. Simples assim. Ahh, e adoram andar de pisca-alerta ligado (ainda não descobri porque disso mas…).
Se não bastasse, todos por aqui são comunistas; ou seja, somente andam na esquerda mesmo que a via tenha limite de 90km/h e ele esteja passeando com alguma chica a 35 km/h. Está com pressa? Passe pela direita e deixe para lá, o cara não vai mesmo sair de onde está (a menos que seja para cruzar toda a via e entrar a direita, claro, sem seta).
E os pedestres não se fazem de rogados quando o assunto é trânsito. Como acreditam que estão andando na Friedrichstraße em Berlim ou em Brasília, simplesmente pisam na via e começam a atravessar. Isso mesmo, sem avisar a ninguém e tampouco sem olhar para os lados. Não importa se é um cara sozinho ou uma mãe com sua prole; a regra é a mesma, pisa e vai fundo.
Outra coisa bacana no trânsito em Margarita é a sinalização que se resume a… nada! Não existem placas de “Pare” (o único país do mundo que já visitei e que não achei uma sequer) e tampouco marcação no solo. Da mesma forma, placas indicativas de caminho, sentido ou ainda com nome das ruas é algo dispensável no código de trânsito deles. Então como fica? Simples, vai na fé. Pega aquele caderninho que você estudou para tirar sua habilitação em um CFC brasileiro, coloca no lixo reclicável e esqueça-o. Na ilha a preferencial é de quem chega em primeiro no cruzamento. Mas não leve muito a sério esta dica pois mesmo você chegando em primeiro, o cara do outro lado pode achar que ele tem direito e entra na sua frente. Isso aconteceu comigo pelo menos meia dúzia de vezes e se não fosse a baixa velocidade por estar dirigindo em um caos total, teria arregaçado o carro alugado.
Nas minhas andanças pela ilha vi de tudo. Conversão proibida, estacionamento irregular (lembre-se, o meio da via também é estacionamento), falta de placa, de sinalização de solo, de faixa de pedestre, de carro com luz alta, sem luz, com neon em volta da placa (lindo de morrer!) e até mesmo carro híbrido, ou seja, metade carro, metade massa. E o que não vi? Polícia. Mesmo andando nas maiores cidades da ilha (Porlamar, Juan Griego e Pampatar), marronzinhos e outros fiscais de trânsito são tão inexistentes quanto chuva. Assim, o povo vibra!
Carros
Os carros merecem um capítulo a parte na história. Margarita, como acredito que toda a Venezuela (pelo que pude ver em Caracas) é um grande ferro-velho. Existem carros andando nas vias que não teria policial brasileiro, por propina nenhuma, capacidade e humanidade de deixar trafegar. São absurdos que eu nunca imaginei existir e confesso que os carros de Dili, em Timor Leste são mais conservados que os venezuelanos.
Também uma coisa interessante vista na Venezuela é que funileiro ou lanterneiro, morre de fome. Ninguém gosta desta profissão por aqui, sejam ricos ou pobres. Carro velho, tudo bem, o cara está fodido mesmo num país fodido com uma economia fodida. Mas um cara que possui um C4 com um ano de uso e o pára-lama colado com rolos e rolos de durex é de lascar. Pior que este, só um Toyota Corolla VVT-I zero com o farol de plástico. Mas não é o farol que é de plástico e sim o saco plástico que o dono colocou no lugar do farol quebrado.
Mesmo carros chiques, grandes e gigantes estão lascados. Cansei de ver SUV’s riscadas, amassadas, batidas e com lanternas quebradas. Nisso levamos vantagem no Brasil. Até mesmo boyzinho trata o carro melhor que venezuelano.
Por falar em carros novos e SUV’s, os veneuelanos que podem, adoram carros grandes. Grandes são graaaaaaannnndeeessss. É muito comum ver pelas ruas Jeep’s, Toyotas, G&M gigantecas com motores V6 ou V8 e também antigos (beeeemmm antigos) como Mustang, Bentley, Buick e outras barcas com mais de 6 metros de comprimento que mais parece um grande desfile de banheiras cubanas que outra coisa qualquer. Também pudera, num país que não produz lhufas e onde a gasolina é mais barata que chiclete, dá prazer ter uma barca com um motorzão roncando.
Gasolina
Este assunto é legal. Já sabia que gasolina custava barato na Venezuela mas ainda não tinha sentido o gostinho de ver o quanto. Para mim foi uma verdadeira surpresa pois pagar 4 centavos de real por um litro de gasolina é algo impensável para qualquer brazuca. Não acredita, faça as contas com a foto abaixo. O valor é de Bs 0,097 (a mais cara com .95 de octanagem). Se fosse uma mais furreca (que é muito melhor que muitas brasileiras), o valor seria de Bs 0,070 o litro. Fazendo a conversão para o Real pelo câmbio encontrado em Isla, isso dá a miséria de DOIS CENTAVOS de real por litro.
Para entender o quanto a gasolina é barata, uma garrafa de água mineral com um litro e meio num supermercado custa Bs 4,50, ou seja, com o mesmo dinheiro compra-se 46 litros de gasolina de primeira linha. É uma pena que não possa beber gasolina, senão…
Quando estive no posto, dei cinco bolívares para a frentista e deixei o troco com ela. É uma vergonha pedir de volta ;)
Dentro de alguns dias, mais uma parte da viagem. Rango e praias. Aguarde!
JOAO PAULO
15/10/2010 — 00:56
Na Isla Margarita achei interessante o descaso com a sujeira na praia. As do Brasil dão de 10 a zero em matéria de limpeza da areia.
Eder L.Marques
04/04/2010 — 23:11
Eu sabia que a gasolina por essas bandas era barata, mas não nesse nível…