Dias atrás vi na web uma foto com a legenda “Paula Fernandes. a rainha dos corpetes e corsets”. Tá ok, a Paula eu até já tinha visto foto, sei que é vesga e que canta mal pacas. Mas que raios são corpetes e corsets? A Internet explica.
Corpete, corselet e corset. Três coisas que viraram moda mas que derivam de uma mesma coisa: o velho espartilho. Criado lá nos idos do Século XVI para segurar as tetas da mulherada que até então andavam com as ditas soltas como vieram ao mundo (azar daquelas que as tinham grandes e alegria daquelas que tinham pequenas), o espartilho mesmo sendo uma peça de auto-flagelo, decerto era algo muito desejado devido ao padrão de beleza da época.
Só para situar os que fugiram das aulas de História, o padrão de beleza no século XVI era de mulheres “cheinhas”. Vide Monalisa.
E a coisa foi evoluindo e… descendo. A mulherada descobriu que poderia usar a mesma peça não só para segurar os peitos, mas também para modelar e afinar a cintura, deixando de ter a circunferência de um hipopótamo para desfilar um pescoço de girafa. Tudo isso facilitado pela invenção do ilhó e o uso de barbatanas de baleias na peça de vestuário feminino. Uma tecnologia só.
O resto é a história que já conhecemos dos espartilhos. Um apetrecho que sufoca, aperta, dói, mas que é amado pela maioria das que não foram abençoadas pela natureza, fosse com corpo, fosse com cérebro.
Com um passe de mágica chegamos ao início do século XX quando foi inventado o sutiã, ou melhor, a redenção das mulheres que então podiam continuar brigando contra a gravidade sem demandar muito sofrimento. Isso fez com que a máquina de tortura feminina fosse, por algum tempo, abandonada por questões óbvias (pelo menos me parece). Mas um torturador mal amado inventou de fotografar mulheres com uma pitada de erotismo, recorrendo para isso o uso dos antigos espartilhos. Feita a desgraça, logo ele retorna a cena tornando-se um símbolo de sensualidade na cultura pop das quatro primeiras décadas do século XX, nos corpos de Greta Garbo, Lauren Bacall, Ava Gardner, Rita Hayworth e tantas outras que não se fizeram de rogadas para ganhar um pouco mais de dinheiro e fama (nem que para isso fosse necessário usar uma morsa no corpo).
Mas o treco devia incomodar pacas pois após as pin-up’s, ele pouco apareceu na mídia, exceto pelas revistas pornográficas que abusaram de seu uso quando a coisa ainda não era escancarada como hoje, e no corpo de algumas artistas meio “apelativas” (ei Madonna!). Eis então que quinhentos anos depois, ele volta a moda com novos nomes mas com a mesma função (ou próximo): segurar os peitos e sumir com o bambolê.
Pelo menos era o que este escrevinhador pensava. Na verdade a função hoje é “liberar a sensualidade”, transbordando o que algumas tem a mais e ajudando as atormentadas com complexo de inferioridade que pouco tem. Atrelado a isso, o pseudo-erotismo vigente propagandeado pela feira feminina (melancia, moranguinho, jaca, manga, etc…) leva diversas abrirem mão do bom senso para tentarem ganhar alguns pontinhos na concorrência (dizem que o mercado anda bravo). Lógica não há, exceto de parecer algo que não é.
Se não bastasse, o treco faz mal pacas. Médicos em todo o mundo são unânimes em afirmar que, mal usado (leia-se apertado até as tripas), ele gera problemas de respiração, varizes, atrofia dos músculos e comprime os órgãos. Eu ainda colocaria mais um efeito colateral: calcifica o cérebro!
Depois de toda a pesquisa que fiz sobre o tema, me pergunto: o que leva uma mulher a comprimir suas costelas baixas (chamadas de flutuantes) e estar suscetível a diversos efeitos colaterais? Algumas podem dizer que é lindo, outras ainda que é charmoso e outras ainda que é para “agradar os homens”. Mal sabem elas que lindo é mulher nua, charmoso é mulher nua e o que agrada homem é pele de mulher nua. O restante é somente obstáculo dos mais chatos possíveis.
Quer uma dica? Lhe dou duas. Primeira; não passe ridículo! Homem pode até achar bonito mas quando ele tirar a peça e tudo começar a cair e expandir, sua decepção será tão grande que não vai ter ilhó para segurá-lo. Segunda; se você não quer ser vista como mulher de calendário de borracharia de posto gasolina, deixe isso para a Paula Fernandes. Ou você também quer sair com o velhaco do Roberto Carlos?
Fontes:
The Pin Up: A Modest History de Mark Gabor
A short history of the corset
Corsets in Context: A History
Wikipedia