Pensa que ia esquecer do meu aniversário? Faltava essa. Na verdade foi a falta de inspiração para escrever sobre o assunto, sempre ela. Engraçada essa coisa de inspiração. Tem dias que vem aquela vontade enorme de escrever sobre… pernilongos! Ou ainda sobre pizzas mas nada de escrever sobre outras coisas digamos, menos superficiais. Mas o que fazer? Quando chegar a inspiração para escrever sobre coisas mais palpáveis (ou sabe lá o adjetivo que deseja para isso), escrevo. Simples assim.
E hoje é sobre meu aniversário… semana passada! Que vexame! Nem sobre ele, meu Deus. Acho que é bloqueio para não lembrar que estou mais velho ou, para aquelas pessoas mais “educadinhas” (ou mais abestadas), “experiente”. Experiência quem tem é puta. Eu tenho é idade mesmo; não vem que não tem! Começam a aparecer os cabelos brancos (que ouço dizer ser “charmoso”), barriguinha, sono pesado e o bendito vício de não gostar de exercícios físicos, exceto pelas minhas práticas noturnas de raquetadas elétricas nos bichos voadores dentro do quarto. Até mesmo meu rebento mais velho já me chama carinhosamente de “velho”; e pior, eu gosto. Devo estar louco meu Deus!
Mas ser velho não é nada feio, pelo contrário. Além daquilo que chamam de experiência (não preciso repetir quem é que tem experiência não né?), velhos contam com várias vantagens. Fila exclusiva nos correios para pagar o carnê do Baú, andar de graça em transporte público lotado e ficar em pé no forninho lá na frente, dormir no sereno esperando a fila do INSS andar e quem sabe, com um pouco de sorte ser internado em um asilo porque os filhos e/ou netos não suportam mais suas incontigências noturnas.
Tirando a brincadeira realística brasileira de lado, ser velho é muito legal. Pode-se apreciar um bom vinho e fazer aquela cara de entendido que ninguém vai te contestar, pode-se jogar xadrez sem ser considerado cafona ou ainda escutar Ella Fitzgerald no laptop novinho em folha sem ser chamado de babaca. De minha parte, nada a reclamar pois os anos somente vão apresentado coisas melhores à mim. Mostram que a playmate do mês é menos atraente que um pôr-do-sol, principalmente com os “photoshops” de hoje em dia, que errar é mais que humano, é obrigatório para ser feliz, que é muito melhor dar do que receber, que não existem coisas impossíveis (mas existem sim bundas-moles que não querem fazer) e que a melhor mulher do mundo é a sua.
Fiz trinta e cinco anos e com esta passagem, um pacto com o manda-chuva: numa conversa dia destes, acertei que ficaria aqui até os setenta. Depois disso, hora-extra sem pagamento em dobro. Ele concordou sabendo inclusive que se puxasse antes, tocaria o inferno no céu. Como já conhece a peça de outros carnavais, resolveu não arriscar. Assim, pelo menos mais trinta e cinco nesta vida. Depois vemos o acordo para a próxima, afinal não estou a fim de voltar cabrito ou urso panda.
Comemorando aqui do outro lado do mundo, amigos e colegas conquistados neste tempo em Timor Leste, um almoço na companhia destes (aqui estão as fotos) e alguns presentes maravilhosos para serem guardados com todo o carinho. No mais, a falta de quem está longe, a saudade e claro, a vontade de ouvir aquele “thisssssss” de uma latinha de Skol sendo aberta. Trinta e cinco anos bem passados, bem vividos e com a certeza que ainda tenho muito o que fazer nos próximos trinta e cinco, principalmente fazer feliz.
Então, paz e sossego para o velho aqui pois afinal, quem tem experiência é puta.