Ontem foi publicada uma reportagem sobre um livro organizado por um ex-aluno da Unicamp – Universidade Estadual de Campinas que será usado em Timor Leste para a formação de professores daquele país. O bacana além da reportagem é que a foto ilustrativa da matéria é de minha autoria clicada na Defensoria Pública de Dili em janeiro de 2007.
Se não bastasse minha amiga Josie Dias que tem o mau hábito de me encher o saco ligando ou mandando SMS nos momentos de minha sagrada soneca pós-almoço, agora tenho que aturar também a cama chacoalhando (e somente comigo sobre ela).
Sábado passado, depois de um bom peixe no molho e alcaparras (ficou bom viu, vou falar!), começo o ritual para uma hora de soneca. Logo nos primeiros minutos sinto a cama vibrando e olho para o ar-condicionado pensando que o mesmo, já capenga, ia cair da parede na minha cabeça. Como ele não deu as caras (e tampouco o peso) sobre mim, dez minutos depois já estava em sono profundo sonhando com uma feijoada de R$ 340,00 (não me pergunte onde achei este valor) num restaurante paulistano. Ao acordar, abro minha ferramenta de RSS para ler as notícias e obtenho a resposta: mais um terremoto na região e desta vez, “aqui do lado”.
Quando digo aqui do lado é cerca de 150Km de distância, algo que em uma magnitude de 5,8 pode ser sentido e alguns objetos começam a tomar vida. Além disso, como foram dois seguidos (outro mais distante e com maior intensidade), a sensação chega até os pés ou, em meu caso, a minha cama.
O telefone consegui resolver desligando-o no momento de siesta. Mas e as placas tectônicas? O que faço? Passo Super Bonder para ver se colam?
Criança normalmente sonha com monstros que as amedrontam, com coisas que não gostaria de fazer ou ainda com aquelas chamadas de impossíveis. Quem é que nunca sonhou em bater no moleque mais chato da turma (só que ele era grandão)? Ou não sonhou com o bicho papão por causa do escuro? Ou ainda em poder ser como um super-herói da TV ou ainda não ir para a escola. Duvido que os sonhos de crianças não sejam assim até hoje.
No meu caso sonhava com isso, claro. Mas também sonhava com outras coisas que, naquela época, eram impossíveis para mim. Sonhava em andar de avião, em conhecer vários lugares diferentes, em ver coisas novas. Fui crescendo e os sonhos não acabaram, ao contrário, se tornaram maiores, mais distantes, mais ousados.
Um deles vem de berço. Meu velho, comunista de carteirinha (realmente), possuía a teimosa mania de comprar livros. Livros de história, de artes, de ciências. Assim sempre tive acesso à livros e tomei gosto pela coisa, seja para ler ou para escrever. De outro lado, minha velha, professora de história, contava coisas interessantes sobre o mundo que me deixava boquiaberto e pensativo no quanto nosso mundo era grande. E deste tempo e da mistura dos dois veio um sonho enorme.
O sudeste asiático, principalmente a chamada Indochina sempre me foi um fascínio, fossem pelos livros de história ou ainda pelos filmes que naquela época somente mostravam a visão unilateral dos americanos. Desta época já vinha minha indignação de que não seria possível serem tão bonzinhos e os “chinas” serem tão maus, o que se mostrou totalmente inverso nos anos vindouros com a verdade sendo conhecida por outras fontes. Mas além desta visão, recordo-me das cenas e imagens dos arrozais sendo bombardeados por napalm, as casamatas, as multilações. Um período rubro-negro pelo qual alguns povos passaram nas mãos da “polícia do mundo”.
Quando tinha 13 anos prometi para eu mesmo que iria um dia pisar nesta parte do mundo para ver de perto o que tornou-se prazer para os franceses durante muito tempo e o que foi palco de uma das maiores atrocidades humanas depois da segunda guerra. O Vietnã, Laos e Camboja, países que nada são para a maioria das pessoas mas que possuem uma história milenar vinda desde os mongóis até os descendentes de Buda que mesclados criaram um povo extremamente rico em cultura e arte. Neste caldeirão multiracial e multicultural eu mergulho para realizar dois terços deste sonho de criança.
O roteiro é simples: algumas escalas em cidades-chave (Kuala Lumpur e Bangkok) até a fronteira entre a Tailândia e Laos, já diante do rio Mekong e de Vientiane, a capital laociana. De lá, Luang Prabang, pequena cidade ao norte do país considerada patrimônio mundial pela UNESCO e depois a entrada no Vietnã por Hanói. Alguns dias ali e parto para Ha Long Bay (outro patrimônio mundial) e Sapa, na fronteira com a China (que não vou entrar pelo menos a princípio). Voltando para Hanói desço para a antiga Saigon (hoje Ho Chi Mhin) onde pretendo conhecer algumas casamatas da época da guerra. Finalmente, Cingapura para uma parada estratégica e a volta para casa.
Toda a viagem soma mais de dez mil quilômetros de vôo, doze cidades e vinte dias, o que é pouco para conhecer tão deslumbrante local de nosso planeta. Os preparativos já estão quase prontos, faltando somente receber o visto de entrada no Vietnã e fechar a mala. Então ainda dá tempo de contar aqui um pouco mais sobre esta viagem antes da partida.Aguarde cenas dos próximos capítulos. Vai ser sensacional!
Quando se fala da Indonésia lembra-se rapidamente de quatro coisas: terremotos, vulcões, tsunami de 2004 e Bali. Destas, a última não é a verdadeira Indonésia, mas sim um oásis de tranquilidade e consumismo no meio do nada (claro que sem atentatos terroristas).
No feriado passado fui conhecer a verdadeira Indonésia indo para Kupang, capital de uma província enfiada em uma das dezessete mil ilhas do país. Esta localidade pode ser classificada como a “verdadeira Indonésia”; poucos falando inglês, diferenças sociais gritantes, serviços ridicularmente precários e um ar de esquecidos no mundo. Definitivamente não é um lugar turísitico, servindo somente de ponte para outras ilhas da região que possuem algum atrativo para quem é de fora. Leia Mais
Mesmo com a chuva torrencial que caiu em Dili hoje (estava precisando viu), a cidade ficou quente após o meio-dia. Passando em frente ao Palácio Presidencial avisto uma enorme cortina de fumaça subindo do mar. Algo no mínimo estranho.
Trânsito parado e muita gente empoleirada no paredão que segura as águas para não invadirem a rua, eis que vejo uma barca em chamas. Mais que depressa corri para casa a fim de pegar a Canon e tirar algumas fotos.
O mais interessante é que mesmo estando cerca de 50 metros mar adentro, o incêndio era tão grande que sentia no rosto e braços o calor vindo do mar. E os bombeiros, coitados, nada podiam fazer a não ser deixar queimar, afinal, além de estar sendo totalmente consumida pelas chamas, estava na água e seria perda de tempo jogar mais água em cima!
E de quem era a barca? Dizem que era do Major Alfredo Reinado, um dos timorenses supostamente envolvidos nos problemas e mortes ocorridas ano passado em Dili. Se era dele não tenho certeza. A única que tenho é que “era” pois dela nada mais existe.
Chamamos de “Operação Apache” quando fazemos aquelas coisas meio “de índios”. Sem precoceito nenhum mas tem coisas que só índio mesmo. E neste final de semana vem mais uma Operação Apache.
Aproveitando que é feriado duplo em Timor (dia 1, Todos os Santos e dia 2, Finados) encavalado com um final de semana, armo a mochila e vou de ônibus com o fiel escudeiro George para Kupang, capital da provícia de Nusa Tenggara Timur. Distante cerca de 12 horas de Dili, é um lugar que tem… Honestamente não sabemos o que tem lá a não ser a informação que existe um KFC e um restaurante que serve lagostas a US$ 3,00. De resto, icógnita.
Por isso mesmo é chamada Operação Apache. Não sabemos como está a estrada, onde vamos dormir, onde vamos comer, o que vamos fazer. Este é o verdadeiro “programa de índio” mas tenho que confessar que é melhor fazê-lo que ficar quatro dias moscando em Dili. Sempre gostei deste tipo de programa e prefiro ele a sair para uma casa noturna ou barzinho. Hoje em dia a música alta, a barulheira e a baderna não me atraem e cada vez mais prefiro programas “de índio”. Além disso, nunca iria vir do Brasil para Kupang, não mesmo!
Mas intenções temos. Assim que chegarmos vamos tentar arrumar um vôo até a ilha de Flores para ver alguns vulcões (tem vários) ou ainda para Komodo, terra dos lendários Dragões de Komodo que são aqueles lagartões com cara de pré-história. Se não conseguirmos, paciência, valeu a estrada e as fotos que vão ser tiradas.
Entonces, de 1 a 4, necas de nada. Estou na estrada novamente. Penso inclusive que esta é preparação para o dia nove quando pela primeira vez vou fazer uma viagem grande sozinho. O roteiro: Malásia, Tailândia, Laos e Vietnã. Dois terços de um sonho de criança realizado. O terço faltante, em janeiro.
Parece mesmo que feriado é feriado em qualquer lugar do mundo. Bali estava simplesmente infernal pelas comemorações do término do Ramadã. Acho que todo mundo resolveu tirar a barriga da miséria depois de um mês de jejum. Kuta com um trânsito digno de volta às aulas em sampa, hotéis lotados, lojinhas apinhadas de gente e claro, um calor que dá medo.
Mas mesmo com tudo isso os quatro dias de descanso foram proveitosos. Além de muita cerveja, boa comida (e bota boa nisso), alguns passeios em lugares que não conhecia, as compras. Pela primeira vez meu lado feminino atacou e fui às compras de forma a dar inveja em qualquer socialite brasileira. Sacolas e sacolas nas mãos cheias de peças para casa, incensos, almofadas, imagens e tudo o que era bonito e barato. Minha sorte foi não poder passar muito o limite permitido de bagagem na companhia aérea pois caso contrário sairia de Bali com um contêiner abarrotado de coisas. Tudo é lindo, tudo é bem feito, tudo é barato.
A viagem rendeu cerca de 180 fotos. Pouco para quem normalmente clica este número por dia nos novos lugares. Acho que estava mais crítico e ao mesmo tempo sem muito tesão para as imagens. Mesmo assim algumas fotos ficaram magníficas e podem ser vistas no álbum especial desta viagem clicando-se aqui. Vídeo, somente quinze minutos que vão ficar guardados para serem somados com outros 45 (pelo menos) de outras passadar por lá. Assim ao menos é possível criar um DVD sobre Bali.
Agora é voltar para a lida e começar a planejar a próxima daqui há trinta dias. Esta, um sonho que tenho desde criança e que agora vou poder realizar. Isso é claro, se os tufões resolverem parar de assolar o Vietnã e Laos. Caso contrário, vou ver que mudar a rota para outro lado pois não estou a fim de sair rolando no meio de um turbilhão de água.
Muito bem. Aqui do outro lado do planeta também é feriado no dia 12 mas ao contrário do Brasil onde é comemorado um feriado católico (Nossa Senhora, Padroeira do Brasil), esta região comemora o Eid ul-Fitr que marca o fim do Ramadã, mês de jejum para os mulçumanos. O importante é que não importa (boa esta não?) se é feriado católico, mulçumano ou dia das crianças. O que importa é que estou de saída para Bali a fim de pegar quatro dias de descanso na beira da praia só fazendo palavras cruzadas.
Então, já sabe; nada de post até segunda feira, nada de computador (que inclusive fica em Dili dormindo um sono merecido) e nada de artigo técnico no site profissional. Em contrapartida desta vez venho com centenas de fotos da ilha mais simpática da Indonésia para o deleite do povo.